A corrida pelo que resta e os movimentos migratórios: o caso do Peru e da indústria mineira chinesa de
cobre
33
Latitud Sur N° 18, Vol. 1, Año 2023. Universidad de Buenos Aires, Facultad de Ciencias Económicas, Centro
de Investigación en Estudios Latinoamericanos para el Desarrollo y la Integración (CEINLADI). (En línea)
ISSN 2683-9326.
de Las Bambas, explorada pela MMG, e a mina de Don Javier, explorada pela Junefield
Mineral Resources Holdings Limited, empresa de capital chinês. A mina de El Galeno,
comprada pela Minmetals em 2009, e a mina de Rio Blanco, adquirida em 2007 pela Zijin
Mining Group, se encontram com os projetos de exploração atrasados. A primeira por falta
de apresentação de um plano ambiental pela empresa chinesa e a segunda por uma série de
conflitos com a população local por direitos de propriedade e os impactos ambientais que a
exploração da mina teria (Morin et al., 2022). O interesse da China na exploração mineira no
Peru não se restringe ao cobre, mas se estende ao zinco, minério de ferro e outros minerais.
O Peru é o país com a terceira maior reserva de zinco que é uma importante matéria-prima
na produção de aço inoxidável.
Las bambas é a maior mina de cobre do Peru e foi adquirida pela China Minmetals, dona na
MMG, em 2014 por US$ 5,85 bilhões. A mina fica na região sudeste do país em Apurimac
e representa um terço das exportações peruanas de cobre. Outros projetos que contam com
investimento chinês são Pampa del Pongo (Arequipa), Galeno (Cajamarca), Don Javier
(Arequipa), Explotación de Relaves (Ica) e Río Blanco (Piura). Em 2018, a China anunciou
a intenção de investir 10 bilhões de dólares no Peru até 2021, incluindo o setor mineiro
(Gestión, 2018). A perspectiva é que o investimento chinês continue aumentando no setor de
exploração de cobre do país.
A presença desses projetos é motivo para o aumento de tensões domésticas no Peru,
principalmente em relação às populações indígenas, uma vez que as minas peruanas estão,
em sua maioria, situadas em seus territórios e áreas de população de baixa renda. Os conflitos
com essas populações geralmente giram em torno de questões ambientais e violações
trabalhistas (Armony & Hearn, 2017). Por exemplo, o projeto da empresa chinesa Lumina
Copper em Cajamarca (que envolve cerca de US$ 2,5 bilhões em investimentos) foi
paralisado após protestos e resistência da população local (Flannery, 2013).
A relação do Shougang Group, empresa que adquiriu a Hierro Peru, com a população local
evidencia os problemas que geralmente surgem em projetos de investimento chinês no Peru.
A empresa passou a ser vista de forma negativa por não realizar o compromisso de investir
US$ 150 milhões na comunidade local em três anos após a aquisição das minas (investindo
apenas US$ 34 milhões e pagando uma multa de US$14 milhões), por demitir parte da mão
de obra local e trazer trabalhadores chineses, além de problemas relacionados a violação de
direitos trabalhistas e questões ambientais (Kotschwar et al., 2011).
A Chinalco, empresa chinesa de alumínio, enfrentou dilemas semelhantes, mas tem buscado
estabelecer diálogo com a população local e promovido estudos de impacto ambiental a fim
de evitar os mesmos problemas que a Shougang teve (Kotschwar et al., 2011). Todavia, a
empresa enfrentou atritos com a população local no distrito de Morococha no Peru
envolvendo o realojamento de 5000 residentes (Flannery, 2013), ocasião em que ofereceu
uma compensação financeira aos deslocados (Kotschwar et al., 2011).
O crescimento do investimento chinês no Peru tem caminhado junto com o aumento de
conflitos sociais e ambientais. A questão ambiental é um problema recorrente na atuação de
empresas chinesas não apenas no Peru mas em outros países da América Latina: há casos de
contaminação de rios por produtos químicos como na mina de Toromocho e o nivelamento
de montanhas associado à extrema exploração dos recursos minerais, por exemplo. Outro
problema, é a resistência de populações campesinas e indígenas em relação a esses grandes